Artistry: a Triad of African Art | 26/05 > 29/07/2023

Artistry: a Triad of African Art

PT| A Perve Galeria tem a honra de apresentar a exposição Artistry: a Triad of African Art”, que coloca em diálogo a obra de José Chambel (1969, São Tomé e Príncipe), Teresa Roza d’Oliveira (1945-2019, Moçambique) e Reinata Sadimba (n. 1945, Moçambique). Inaugurada a 26 de maio, no contexto da semana da arte de Lisboa, a mostra prolonga as relações estabelecidas na prestigiada feira de arte contemporânea ARCO Lisboa, onde a Perve Galeria participou na secção África em Foco, a convite da sua curadora, Paula Nascimento. A 29 de julho, no âmbito da finissage da exposição, será realizado uma visita guiada pelo curador, Carlos Cabral Nunes, pelas 15h

Galeria de imagens das obras em exposição: link

 

ENG| Perve Galeria is honoured to present the exhibition "Artistry: a Triad of African Art", which establishes a dialogue between the artworks of José Chambel (1969, São Tomé and Príncipe), Teresa Roza d'Oliveira (1945-2019, Mozambique) and Reinata Sadimba (b. 1945, Mozambique). Opened on May 26th, in the context of Lisbon's Art Week, the show extends the relations established at the prestigious contemporary art fair ARCO Lisboa, where Perve Galeria participated in the Africa in Focus section, at the invitation of its curator, Paula Nascimento. On July 29th, as part of the exhibition's finissage, there will be a guided tour by the curator, Carlos Cabral Nunes, at 3pm.

 Image gallery of the artworks on display: link

 

Perve Galeria

Artistry: a triad of African art

José Chambel, Reinata Sadimba, Teresa Roza d’Oliveira

26 maio - 29 julho | May 26 - July 29

3.ª - sáb: 14h - 20h | Tue - Sat: 2pm - 8pm

 

PT|

Apresentando um conjunto alargado de obras, grande parte mostradas ao público pela primeira vez, a exposição Artistry: a Triad of African Art, patente na Perve Galeria até 29 de julho, explora as distintas expressões e linguagens artísticas oriundas do continente africano, colocando em diálogo a cerâmica de Reinata Sadimba (1945, Moçambique), a pintura de Teresa Roza d'Oliveira (1945-2019, Moçambique) e a fotografia de José Chambel (1969, São Tomé e Príncipe).

Dona de uma obra extremamente eloquente que, mesmo vinculada a África é capaz de se internacionalizar e comunicar com qualquer geografia ou língua, Reinata Sadimba, artista autodidata e analfabeta, oriunda da comunidade ancestral Makonde, nasceu em 1945 na pequena aldeia de Nemo, no planalto de Mueda, província de Cabo Delgado. Desde cedo assumiu uma voz ativa na defesa do seu povo, participando no movimento de libertação do seu país, face ao regime ditatorial e colonial português. Após a independência de Moçambique, em 1975, tendo perdido seis dos seus sete filhos, Reinata dedicou-se à escultura figurativa em terracota, emancipando-se, quer do marido, uma ousadia nos anos 1970, quer do seu grupo étnico, que proibia as mulheres de desenvolverem trabalho escultórico figurativo, permitindo-lhes apenas a realização de objetos utilitários em cerâmica. Expondo um grupo de obras representativas do seu prolífico percurso, na presente mostra é possível aceder à criatividade inesgotável da artista e ao caráter fantástico e surrealizante das suas figuras antropomórficas em terracota. Esculturas que nos ligam física e simbolicamente à terra, aludindo ao poder purificador de um processo artístico ancorado na sabedoria popular e ancestral.

Desvendando um sentido íntimo de liberdade, estabelecido contra restrições patriarcais e heteronormativas, o mundo pictórico de Teresa Roza d'Oliveira é habitado por estranhas personagens e animais antropomórficos. Artista luso-descendente, importante ativista pela independência de Moçambique e pelo fim da ditadura portuguesa, fez parte de uma geração de artistas moçambicanos que incluía Alberto Chissano, Malangatana Ngwenya ou Ernesto Shikhani. Apesar da importância da sua obra, acabou por ser objeto de um apagamento histórico, sobretudo por se ter divorciado do marido e pai dos seus dois filhos, no final dos anos 70, para viver uma relação homossexual, que mais tarde tornaria em casamento. No contexto africano, a homossexualidade, e a homossexualidade feminina em particular, está longe de ser um assunto pacífico, e as mulheres continuam a ser ostracizadas por se assumirem como tal. Fazê-lo, como artista, no tempo em que Teresa o fez, demonstra a sua força incomparável, também expressa nas suas obras, detentoras de uma expressão que se debate pela afirmação de uma identidade verdadeiramente livre. Em 2022, o seu espólio artístico foi integrado na coleção da Perve Galeria, que, com a Casa da Liberdade - Mário Cesariny, realizou entre março e maio de 2023 a sua primeira exposição antológica, intitulada Mãos de Escultura & uma visionária na ilha (de Moçambique), que colocava em diálogo a sua obra com a de Reinata Sadimba. 

Sob uma lente social e politicamente problematizadora, José Chambel é detentor de uma linguagem fotográfica de índole documental, imbuída de expressão artística. Na sua prática o autor assume a preocupação de preservação do património cultural, tangível e intangível, de São Tomé e Príncipe, Portugal e Cabo-Verde, e, apesar de estar profundamente enraizado na sua herança, pertence a uma geração de artistas empenhada em encorajar o ato de repensar a imagem de África. Apresentando um conjunto de fotografias das mais significativas séries do seu percurso, como Capital (2000), Di Ké Mu (2016) ou Danço Congo (2016-2018), a mostra assinala os 25 anos da realização de Págá Dêvê (1997) e de Tchilóli (1997), onde Chambel documentou uma das mais importantes formas de expressão dramática santomense. De caráter híbrido, subversivo e anacrónico, nela encena-se a Tragédia do Imperador Carlos Magno e do Marquês de Mântua, texto que chegou a São Tomé no século XVI, quando a ilha era um entreposto de escravos. No seu conjunto estas fotografias subvertem o conceito de identidade pura, demonstrando como a identidade cultural se estabelece no encontro da diferença e nas transformações que ela despoleta.

É precisamente de encontros, plurais e prolíficos, que se estabelece esta exposição, permitindo aceder aos múltiplos e variados modos como a tríade de artistas africanos olha e interpreta o mundo a partir de uma posição e identidade individual particular.

 

ENG|

Presenting a wide range of artworks, most of them shown to the public for the first time, the exhibition Artistry: a Triad of African Art, at Perve Galeria until July 29th, explores the different artistic expressions and languages from the African continent, putting into dialogue the ceramics of Reinata Sadimba (1945, Mozambique), the painting of Teresa Roza d'Oliveira (1945-2019, Mozambique) and the photography of José Chambel (1969, São Tomé and Príncipe).

Owner of an extremely eloquent work that, even linked to Africa, is capable of internationalising and communicating with any geography or language, Reinata Sadimba, a self-taught and illiterate artist from the Makonde ancestral community, was born in 1945 in the small village of Nemo, on the Mueda plateau, Cabo Delgado province. From an early age, she took an active role in the defence of her people, participating in the liberation movement of her country, in the face of the Portuguese dictatorial and colonial regime. After the independence of Mozambique in 1975, having lost six of her seven children, Reinata dedicated herself to figurative terracotta sculpture, emancipating herself both from her husband, a daring move in the 1970s, and from her ethnic group, which forbade women to develop figurative sculptural artwork, allowing them only to make utilitarian ceramic objects. By exhibiting a group of artworks representative of her prolific career, this exhibition allows us to access the artist's inexhaustible creativity and the fantastic and surreal character of her anthropomorphic terracotta figures. Sculptures that physically and symbolically connect us to the earth, alluding to the purifying power of an artistic process anchored in popular and ancestral wisdom.

Unveiling an intimate sense of freedom, set against patriarchal and heteronormative constraints, Teresa Roza d'Oliveira's pictorial world is inhabited by strange characters and anthropomorphic animals. A Portuguese-descendant artist, an important activist for the independence of Mozambique and the end of the Portuguese dictatorship, she was part of a generation of Mozambican artists that included Alberto Chissano, Malangatana Ngwenya or Ernesto Shikhani. Despite the importance of her work, she ended up being the object of historical erasure, mainly because she divorced her husband and father of her two children in the late 1970s to live a homosexual relationship, which she would later turn into marriage. In the African context, homosexuality, and female homosexuality in particular, is far from being a peaceful subject, and women are still ostracised for coming out. Doing so, as an artist, at the time Teresa did, demonstrates her unrivalled strength, also expressed in her artworks, which hold an expression that fights to affirm a truly free identity. In 2022, her artistic estate was integrated into Perve Galeria's collection, which, with Freedom's House - Mário Cesariny, held its first anthological exhibition between March and May 2023, entitled Hands of Sculpture & a visionary on the island (of Mozambique), which put her work in dialogue with that of Reinata Sadimba.

 

Through a socially and politically problematising lens, José Chambel's photographic language is of a documentary nature, imbued with artistic expression. In his practice, the author is concerned with the preservation of the tangible and intangible cultural heritage of São Tomé and Príncipe, Portugal and Cape Verde, and, despite being deeply rooted in his heritage, he belongs to a generation of artists committed to encouraging the act of rethinking the image of Africa. Presenting a set of photographs from the most significant series of his career, such as Capital (2000), Di Ké Mu (2016) or Danço Congo (2016-2018), the exhibition marks the 25th anniversary of the realisation of Págá Dêvê (1997) and Tchilóli (1997), in which Chambel documented one of the most important forms of santomean dramatic expression. Hybrid, subversive and anachronistic in character, it stages the Tragedy of Emperor Charlemagne and the Marquis of Mantua, a text that arrived in São Tomé in the 16th century, when the island was a slave depot. As a whole, these photographs subvert the concept of pure identity, demonstrating how cultural identity is established in the encounter of difference and the transformations it triggers.

It is precisely from these plural and prolific encounters that this exhibition is established, allowing access to the multiple and varied ways in which the triad of African artists look at and interpret the world from a particular individual position and identity.

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